Estão Todos Bem.
Estou acordada a cerca de uma
hora, talvez mais. O relógio marca cinco e vinte e três da manhã agora, essa é
a primeira vez que tenho coragem de desviar meus olhos dele. É como se pudesse
evaporar diante de mim a qualquer segundo.
Tive um sonho estranho, ou melhor,
tive um pesadelo terrível. Todos e tudo de bom que tenho em minha vida tinham
sumido. Inclusive ele.
Nesse pesadelo meus pais já não
estavam naquela casa na qual cresci então, assim que acordei e verifiquei que
ele ainda estava aqui, procurei pelo celular embaixo do travesseiro. Sem
desviar meus olhos dele disquei para minha mãe, ela atendeu depois do que
pareceu uma eternidade com a voz sonolenta. Perguntei onde estava meu pai e,
irritada, me informou que ele estava ao seu lado dormindo, coisa que eu também
deveria estar fazendo e deveria deixa-la fazer. Desliguei o telefone não mais
calma que antes.
Ainda sinto que tudo pode desaparecer num
piscar de olhos. Mas, ao que parece, o mundo ainda segue seu rumo normalmente.
Lá fora só ouço o latido de
alguns cachorros ao longe. É cedo, todos ainda dormem.
Não consigo fechar os olhos
novamente, porém tenho medo de levantar e deixa-lo sumir. Toco sua face para
ter certeza que é real. Beijo seus lábios e finalmente tenho coragem de
levantar.
Na sala verifico se Max está em
sua cama, ao me ver ele solta seu osso de brinquedo e corre em minha direção
para me desejar um bom dia. No pesadelo ele também sumira. Levanto-o e olho
para seus olhos de pidão para ver se está bem. Sento no sofá com Max em meu
colo.
- Você nunca me abandonaria né
campeão? – pergunto acariciando suas orelhas.
Em resposta Max se arruma no sofá
e deita a cabeça em meu colo esperando por mais carinho.
Vejo que, como sempre, o telefone
está jogado no sofá – nunca nos lembramos de coloca-lo no lugar – começo a
fazer uma lista mentalmente de todas as pessoas que amo e não encontrei no meu
pesadelo. Ligo para cada uma. Acordo todos os meus amigos deixando-os irritados
pela ligação tão cedo em pleno domingo. Não me importo de chateá-los desde que
possa ter certeza que estão bem em suas casas ou qualquer outro lugar que
tenham passado a noite.
Ligo a TV e deixo num canal
qualquer, nem ao menos estou prestando atenção nas imagens da tela.
Aos poucos o sol começa a nascer
e entrar pela janela. A cidade começa a
despertar e ouço os sons das vozes, dos carros, buzinas, cachorros, risada e
choro de crianças. Tudo normal como um domingo qualquer.
Um barulho vindo da cozinha me
desperta de meus pensamentos.
Deixo Max em sua cama e caminho
até o outro cômodo. Ele está de costas preparando o café. Não denuncio minha
presença, apenas fico observando seus passos pela cozinha. Ao se virar e finalmente
me ver ele sorri. Aquele sorriso perfeito que é a causa do meu sorriso.
- Acordou bem cedo para um
domingo. – comenta vindo em minha direção e dando-me um beijo – Bom dia.
Não respondo, apenas continuo a
sorrir.
Sento na cadeira em frente ao
balcão e continuo a observa-lo. Aos poucos meu medo diminui. Ele ainda está aqui,
bem na minha frente. Não sumiu como num passe de mágica, não evaporou e não há
sinais de que tão cedo vai embora da minha vida.
Estão todos bem, portanto eu
estou bem.
Estão todos aqui, no meu mundo.
Texto por Jéssica de Paula
Estava ouvindo:
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*-*
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