O bêbado abandonado.


Nos bares da cidade você pode encontrar quase todo tipo de pessoas, grupos de amigos extraordinariamente alegres, solitários por opção, casais jovens e apaixonados, casais velhos e apaixonados, figuras estranhas que sempre estão com um ar de mistério, mulheres ou homens a procura de alguém... Enfim, há uma incontável variedade de indivíduos nesses bares. Quando se trabalha em um deles aprende-se um pouco sobre pessoas e até mesmo relacionamentos. Às vezes já sei aonde alguém irá sentar só de olhá-lo entrando pela porta, os mais festeiros gostam das mesas que ficam na calçada, os solitários abandonados preferem o balcão, assim, imagino que o homem que acaba de entrar irá escolher um dos muitos bancos vazios à minha frente.
Quando ele senta em um dos bancos ao balcão paro de organizar o lugar para atendê-lo.
- Boa noite. - cumprimento recebendo apenas um acena de cabeça.
O homem é relativamente alto, tem cabelos e olhos escuros e a barba falha dando sinais de que precisa ser feita, usa um terno amassado e a gravata está solta, esse tipo de aparência nunca é bom sinal e geralmente tem a ver com problemas financeiros ou mulher.
- Uma dose de Whisky, por favor, se gelo. - pede sem tirar os olhos do balcão.
- Alguma preferência? - pergunto me dirigindo às bebidas.
- Tanto faz.
Pego a primeira garrafa de Whisky que encontro e coloco uma dose como pedido.
Como imagino, a primeira dose vem seguida de muitas outras que parecem nunca ter uma última e, logo, inicia-se uma conversa por parte dele.
- Você tem um relacionamento?
- Não tenho muito tempo pra essas coisas. - afirmo enquanto confiro o que precisa comprar para amanhã.
- Sério? Achei que trabalhar aqui ajudaria a conhecer pessoas. - diz um pouco grogue.
- É, mas eu prefiro não ter nada sério, sabe como é.
- É, eu sei como é. - afirma emburrado. - É uma merda.
- Aí é você que ta dizendo. - olho de esguelha para a garrafa verificando o quanto ele já bebeu.
- Relacionamentos são uma merda. Pessoas são uma merda, elas são egoístas, só pensam em si, não ligam pro outro, só querem e querem e pra elas que se foda se você tem uma vida... Porque eu tenho uma vida sabe?! Eu tenho um trabalho e ressspon responzalidades.
- Responsabilidades? - corrijo.
- Isso aí.
Ele pede mais uma dose e sirvo-lhe já começando a pensar que talvez seja hora de convencê-lo a parar e pegar um táxi para voltar para casa, se tem uma coisa que o patrão não quer é outro descontrolado entrando em coma alcoólico aqui. Isso aconteceu uma vez e não foi nada bom uma ambulância parada em frente ao bar e atrapalhando os demais clientes por irresponsabilidade alheia. Desde então os funcionários são responsáveis por parar certos clientes.
- Sua namorada te deixou? - pergunto por sentir a curiosidade atiçando.
- Minha esposa. - responde amargurado.
- Parece muito jovem para ser casado.
- Eu fui casado, eu fui. Não sou mais. Porque ela me deixou, ela não me entendia.
Vejo que ele segura o choro como uma criança e nunca olha em minha direção.
- Acho que é isso, sabe?! A idade. Duas crrrianças burras. Eu, ela e todo mundo que deixou isso.
- Acha mesmo?
- Você não acha?
Penso um pouco sobre a pergunta, esse negócio de romantismo nunca foi muito meu forte, mas já conheci casais de todos os tipo cometendo as maiores loucuras independente de idade e se tem uma coisa que posso tirar disso tudo é que não existe uma fórmula.
- Não, acho que quando é pra ser só é. Não tem regra.
- Acho que essa era a regra pra mim. - ele diz pensativo me olhando pela primeira vez. - Você é legal. Vê mais uma.
Ele me estende o copo, mas, ao invés de enchê-la novamente, eu apenas coloco o copo da pia e passo o valor gasto pelo cara.
- Já chega. Ta aqui a conta e, se quiser, pode chamar um táxi no telefone do bar.
Ele tira algumas notas do bolso e coloca no balcão dizendo que posso ficar com o troco já que agora não tem uma casa para sustentar e está morando no antigo quarto na casa dos pais.
- E o táxi? - pergunto depois que ele já virou as costas. - Não pode dirigir assim.
- Eu vou andando, o carro ficou com minha esposa, ex, tenho que lembrar disso, ex.
Volto para meus afazeres enquanto o homem cruza a porta para sair e cruza com um jovem casal que está entrando.
Aposto que irão procurar o canto mais reservado que tiver.


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